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    quarta-feira, 3 de abril de 2013

    A Nossa Freguesia (IV)


    “Onde fica Jou!? Pergunta recorrente que cada um coloca a si próprio e, me vão colocando quando por lá ando a aprender com todos”.
    O projeto do traçado da estrada e o relevo que fica mais perto do céu

    Onde é que se fortalecem as minhas dúvidas? Segundo me têm sido dito e haverá documentos como fonte histórica, o primeiro traçado da estrada estaria marcado para seguir do Picoto pela linha de alturas entre Toubres e Serapicos fazendo o tal arco, mas agora de Sul para Norte, isto é, contornando o centro da Freguesia pelo lado Este, próximo da linha de alturas rente ao Castelo, passaria no Carril e entraria no cabo, em Cimo de Vila, seguindo daí, abrigada dos ventos da Padrela, até à fonte de Rendufe, continuando para ir passar na tal “portela” situada no Sabugueiro no sopé sul do monte da Madorra. (Continua Blog Terras de Jou) A abertura deste traçado seria vista como mais económico considerando o relevo, sempre o relevo, e os equipamentos postos à disposição: a picareta, a carreta e o carro de bois, meios que eram utilizados à época.
    -Faria sentido colocar uma placa a dizer Jou no alto entre Toubres e Serapicos?
    Já vimos que não, a prova é que ela não está no alto do Picoto nem no de Vale de Égua. Este primeiro traçado era também bem visto pelos agricultores que não queriam que esta lhe passasse nas hortas, ao contrário de hoje que todos querem que ela passe à sua porta e, pelos vistos, na época já havia alguém, até com interesses comerciais e estatuto, que pretendia o mesmo.
    Aquele primeiro traçado caiu, ia ter que passar na junção das ribeiras de Jou e Toubres, tardasse o que tardasse e custasse o que custasse:
    “ … do lade de lá da ponte ao direito do lameiro, que eu trazia, fazia um lombo não habia o catrapila era uma subida bastante da ponte ó pra lá tinha ali um lombo de fraga,…” (H.- Novainho)
    Abandonado este primeiro traçado, os senhores locais foram medindo forças e influências, ela esteve para ir ao longo do Vale de Navio, onde a subida seria muito mais suave, mas as hortas e os campos de regadio iam ser expropriados. Este traçado tal como (o) primeiro não ia estragar o terreno ao Gregório, D. Deolinda, na Cheira que era um obstáculo de influências. Nesta terra, o Gregório tinha nascente e olga era a única terra de rega naquelas paragens. Desta nascente, o Gregório, poucos anos mais tarde, canalizou a água para a sua casa, no Toural, pelo caminho por onde a estrada passaria no primeiro traçado e também na variante do segundo.
    Os canos de ferro foram usados com esta finalidade, pela primeira vez, no Banho, para trazer a água da Fonte Velha para a frente do portão do Morgado, a do Gregório teria sido a segunda e a mais longa.
    A vontade de quem tinha dois poderes prevaleceu e o traçado é o que nós conhecemos e concluímos esta derivação dizendo aqui, que Jou não seria o que é hoje se o traçado não o tivesse sido. A segunda variante, que esqueceu o Vale de Navio porque esta tinha a resistência de peões mais pequenos mas também com alguma influência, até junto de quem tinha dois poderes, fez a estrada passar em terrenos mais pobres e só o Gregório ficou com a sua quinta esbotenada.

    Mas caros conterrâneos e leitores/as, as nossas gentes ainda vão ter que comer muitas fornadas de pão e panelas de caldo até ela estar riscada e, mesmo depois de riscada ainda houve, durante muitos anos, muitos carretos com cambão solidário e cargas antes de ela estar empedrada - com pedras de Santa Comba casadas a pino -, por isso vamos tirar os pés da estrada e continuar a trilhar (o) caminho da pergunta em aberto:
    -Onde fica Jou?
    Para lhe ir respondendo, reivindica-se uma outra pergunta menos abrangente mas de igual pertinência:
    -Porque é Jou como é? Isto é, porque é que Jou não é, um aglomerado contínuo como as demais localidades? Porque é que o grupo central não é um contínuo de edificado mas sim aquele sementio próximo e disseminado?
    Para isso lançam-se algumas hipóteses:
    A primeira é o Relevo e a sua influência no clima.
    O relevo tem a ver com a altitude dos lugares, e, altitude aprende-se, na escola, que é “a distância medida na vertical entre o nível médio das águas do mar e esse lugar”, neste caso lugares.
    Vamos então descodificar símbolos de mapas cuja leitura nos indica o relevo – deltas, pontos de cota e curvas de nível.
    O relevo que fica mais perto do céu são os Deltas, marcos geodésicos, vamos, por isso, enumerá-los e referir a sua altitude. Os Deltas são locais onde ainda foram construídos marcos definidores de precisão, aquilo a que o povo chama de pinoucos, ou pinocos , picarotos ou marcos. Cocurutos nevados que despontam acima das croas das árvores. Os mesmos fazem parte de uma rede de pontos, que se encontram em linha de vista.
    Assim temos, o de Santa Isabel (766m); o da Madorra (766m); o de Vale de Égua (724m); o de Jou (737 m); o de Sapateiros (746m) e o do Picoto (740m).
    Temos depois o nosso relevo de proximidade, aquele que aconchega os nossos lugares:
    - O Alto da Serra de Baixo (703); o Alto da Serra do Banho (757m); o Alto de Santa Isabel (758m); o Alto da Cheira (737m); o Alto do cruzamento de Curros (722m); o Alto dos Castelares (698m); o Alto do Vale Fentoso (707m); o Alto dos Borralheiros (733m); o Alto dos Chalinhos (704m); A linha de alturas entre Toubres e Serapicos (665m) e o Alto do Picoto (728m).
    O relevo de proximidade, ficando Toubres dentro do círculo, tem uma altitude média de 719 metros, e se Toubres ficar de fora tem uma altitude média de 725 metros. As serras mais elevadas são a Serra do Banho (750m) e a de Santa Isabel também com (750m), aqui foram desprezados pequenos pontos de cota.
    Os pontos mais altos são os deltas de Santa Isabel e o da Madorra com a mesma altitude 766 metros e o ponto mais baixo, no relevo de proximidade, é a junção das linhas de água de Jou e de Toubres que tem uma altitude de 580 metros.
    “ …aquilo ali era um pontão estreito cumas pedras compridas deitadas bia-se a áuga toda, alguns burros até tinham medo de passar, aquilo as ferraduras toaba. Passaba o carro dos bois e ficabam dois palmos de cada lado se tanto…” (M. A. Cimo de vila)
    Os pontos mais baixos de todo o território têm aproximadamente 470 metros de altitude e ficam situados, nos antípodas, um de cada lado em pontos opostos sendo, um no final da Ribeira de Joanes e o outro no Vale da Ribeira de Santarém sob os limites da Freguesia e Concelho.
    Por último, a diferença, entre o ponto mais baixo e o mais elevado é de 186 metros, no relevo de proximidade, e de 296 metros em todo o território da nossa freguesia.
    Nestes espaços que medeiam o mais alto e o mais baixo, a vida doméstica corria, aqui se vinha a este mundo, aqui se labutava e daqui se ia para o outro com fé.

    Dinis Serôdio Lopes da Costa 
    (mo- Continua (V))



    1 Lado
    2 Habia – Os Bb e Vv são usados frequentemente indiferentemente.
    3 Caterpillar
    4 Baixa de terrenos férteis, terra de regadio.
    5 Junta de bois que ajuda outra fazendo tração na parte anterior para vencer as dificuldades do caminho.
    6 Marco geodésico, talefe, o ponto mais alto de um monte.
    7 Cimo, cume, ponta mais elevada
    8 Com umas, no falar sempre se vai pelo caminho mais curto e económico.
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