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    sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

    A nossa freguesia: O Lugar de “Galileu”

    Mascanho

    A nossa freguesia: O Lugar de “Galileu”, a Seiva e o Giro visual, Ribeira de Joanes, nossa Bacia hidrográfica. A Ribeira de Jou começa e vai-se formando no Alto do Silveira, no Alto dos Castelares, no Alto do Vale Fentoso e no Alto dos Borralheiros. A nossa ribeira de Joanes é como um cano grosso de um castanho sem idade, guardada a jusante, junto à gancha do tronco, por Mascanho, com um tronco ainda mais grosso, de que Penabeice usufrui, cuja pontinha mais alta é no pico da Padrela, onde a primeira gota do nosso rio borbulha, em nascente, e, vê a luz que espelha.
    A ribeira de Joanes que deu a sua maior prova na retorta da Ôla onde rasgou e varreu fraga, um local único, ganha corpo, no lameiro do morgado: Bento Gomes de Carvalho, homem de parecença atarracada por ser grosso como um pipo….
    -Nesse lameiro havia um moinho, que tinha cantarias furadas umas sobre as outras pra fazer o rego prá água, cubo, pra ter força, enxia, enxia, caía dalto, e o peso da água ajudaba a empurrar o rodizio.
    A sua localização, agora quase impercetível, foi pensada pelas necessidades da vida e da pouca água que era aproveitada das duas ribeiras e encaminhada, de longe, por dois regos: era um moinho de rodízio, onde a água é admitida por um cubo com pressão formado por um tubo estanque constituído por aduelas de pedra. Pela proximidade seria o nosso moinho, o moinho de todos: o bem comum a sobrepor-se ao bem de um, havemos de lá voltar para falar do moinho e desse homem que deixou bens por não deixar legado no mundo.
    Cano que tem todos os seus ramos, guias, onde não tocou limpador, que sempre rebentam e crescem direitas por saberem onde fica o céu. Toda aquela seiva, bruta e elaborada, toda a vida desta árvore deve ser cantada. O nosso cavo relevo, de cor azul em mapa, que a água desenhou, lavrando. Digno relevo, altos e baixos, feitos pelas correrias apressadas, de quem tem saudades do mar. Falta-lhe o sal!?
    Logo a ela, que é o sal e o sangue da terra! Da vida! Oiro se caída maneirinha! Uma dúzia de comunidades mínimas dispersas, com duas penduradas na ponta de outros ramos, correndo suas lágrimas e fluidos para outra bacia hidrográfica: O Castelo, que é nossa referência antiquíssima, e Vale de Égua, a nossa alfândega com estalagem e marco concelhio, deixado ali visível por quem mandava, para nos lembrar a pertença reconfigurada.
    Comunidade alargada, lugares que nos fizeram: todos com a boca na fonte, os pés nas hortas e o olhar, crivado pelos ramos dos castanheiros altos e cheios de memórias, nos lameiros, “poilas” e montes, ficando o corpo, resguardado, no aconchego do saudável sol. Ali semeados, como ninhos, pequenas manchas escuras de xisto, agarradas às fragas alicerces que as sustêm. Casas pequenas, baixas, quase corcundas, contorcidas, a espremer caminhos e becos, a fintar o vento, com paredes meeiras, solidárias como ninhos de andorinhas com seu adobe, de palha e barro, sem levantar a pala do beiral ao vento por receios fundados, porque nunca se viu o que não se vê ter tais valentias. Casas quietas durante gerações dando as costas ao relevo protetor dos ventos gélidos que nos invernos são sempre agrestes. Em cada ninho, em cada mancha, lá estava uma casa grande, o cogumelo maior da sota, em bens e respeito, porque quem tinha e, tinha muito, metia medo, naquela teia de miséria. Quem nascesse dentro daquelas paredes tinha diminutivos até com cãs. Só o divino tinha um poder maior…
    Todos os bairros e gentes sabiam que a Santa Isabel estava lá porque acreditavam e, todos lá foram em romarias, ritualistas, tal como nós: da meninice ao namoro e, pela vida fora. Só a Aboleira, o único bairro voltado a norte, talvez por castigo, plantado sobre o cerro da fonte, via o cabeço de frente para se redimir; a Freiria via, mas se muito olha-se ficava com torcicolo; A Granja, O Cimo de Vila, O Banho, O Rio e O Novainho, só se esticassem o pescoço com um pé no chão e outro no ar, com uma perna a fazer equilíbrio, para alcançar um olhar esticado de vagem.
    Em Terras de Jou se olhamos para nascente: dos postigos, das varandas, dos quinteiros das ruas, dos campos e montes vemos na linha do horizonte: o sol a despontar, poisado no alto do Castelo, encostado à Serra dos Passos que irmana com a de Santa Comba, depois imaginamos o Cadeirão, caminho antigo que desce prá ponte do Franco e, vemos o elmo da Serra da Garraia, e mais longe o alto de S. Domingos, que mira Murça:
    “Murça que ladroeira/Santo nome de Jasus/Botaram renda aos baldios /Dizendo quera prá luz”. “Versador de Mascanho: Linardo Bilar, a luz da Bila”.
    Não foi de bom grado que o povo aceitou, a reorganização liberal, nesta passagem pode supor-se um reflexo do que vinha de trás.
    Continuando o giro do sol, que se faz tardinha, o alto da Carvas, que tem Talefe e, noutros tempos, minério (tungsténio):
    “Adeus ó lugar das Carvas/ Biradinho para o rio/ Acabou-se-vos o minério acabou-se-vos o brio/ Só já criam trigo fresco/ Bacalhau era aos quintais/jungabam que a matrajela não acababa mais”.”versador de Mascanho: Linardo Bilar pelos anos de 1945.”
    Mais perto o Picoto, com seus seixos esbranquiçados e, já perto de nós, a Serra de Baixo a Serra do Banho, onde dizem ter havido a primeira ermida e, o nosso cabeço, alvo, no fim do giro do horizonte.
    Santa Isabel (766 mts) onde foi o rapaz, que naquele tempo não havia menino, quer olhar mais longe e perscruta mundos. Sobe ao cabeço, sobe ainda mais alto, encarrapita-se na fraga, a custo de esfoladelas, e senta-se a esforço no marco.
    Disseram-lhe quando ainda era mais pequeno, que se tirasse uma mirada, com bons olhos, entre a Alto da Cerca dos Mouros e o alto do Castelo, por cima da Ribeira de Santarém, as serras mais longe, o mais longe que fosse capaz de avistar, num dia limpo, já eram terras de Espanha.
    Esteve, olhou afincadamente até lhe doerem os olhos, saboreou o vento e, não acreditou. As montanhas eram iguais às nossas, como podia ser Espanha!
    Encheu-se de paisagem, maravilhado! O medo acordou-o da contemplação! Tinha que sair breve daquele pecado. Foi às escondidas!

    Dinis Serôdio Lopes Costa
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    2 comentários:

    1. Margarida Moutinho Guerra14 de fevereiro de 2013 às 16:00

      Senhor morgado que eu ainda conheci .Um dos grandes .Beneméritos da nossa terra de .

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    2. eu não conheçi mas lambrame de ouvir falár toda a vida bem dele ainda há aqui um moinho que ele deichou á igreija pena não aver mais morgádos como ele

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