Ficam os lugares sem pessoas, morrem com elas, sente-se a tristeza que a auxência engendra.
As paisagens vão-se desumanizando e os campos sem gente são montes ermos de onde até os animais em liberdade, felizes, se extinguem. Só ficarão porcos (javalis) que quase só vivem para fossar e comer. Vivem uma vida na lama!
Faz silêncio a melodia das aves, de campos arados, em agradecimento.
Os campos viram silvados, sem o carinho dos donos, os caminhos ficarão sem pés e patas e de tristeza esmorecerão e entregar-se-ão ao mato. É o fim!
Ficarão os lugares sem gente e deixarão de existir porque os lugares só são lugares se forem de alguém.
Os poucos jovens casais que se amam, a quem compete por vidas no mundo, nos nossos lugares são poucos e deixarão de ser nenhuns: “um filho é nenhum”. Porque para nos pegarem ao colo, na velhice, são necessários, no mínimo, dois corações e para nos descer à sepultura oito braços.
Temos que ser capazes de legar o legado recebido, deixar descendência: a um casal, que veio do passado, deve corresponder, no mínimo, um casal para o futuro. Só o amor nos salva! O bem-estar, até egoísta*, não se pode sobrepor ao amor e à nossa legação na continuidade da existência.
Por outro lado, os poderes assistem ao maior crime dos nossos dias,--a morte das aldeias do nosso Portugal--, mas fingem-se cegos surdos e mudos.
O Conterrâneos! Que fazeis nos nossos lugares a vossa vida, digo-vos, é premonição minha, que num futuro sem gente não haverá Freguesia ou Concelho que se aguente e, sem eles, coisas há que ficarão mais longe.
É com tristeza que manifesto os pêsames aos familiares de quem partiu.
Até podemos trocar afetos com animais de companhia mas estes nunca nos darão banho, nunca nos vestirão, nunca nos pegarão ao colo e nunca serão veículos da nossa cultura.
Dinis Costa
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