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    domingo, 15 de março de 2015

    02 (dois) Emigração (continuação)


    (partilhando com os conterrâneos que estão por esse mundo fora)

    A quem servia a emigração clandestina?
    Estranhamente a todos servia! Em última instância até ao próprio emigrante como se verá mais adiante.
    Ao poder servia de diversas maneiras:
    1. Ao reprimir, e publicitar na imprensa essa repressão, recebia o apoio da ALA CONSERVADORA do regime, --grandes proprietários agrícolas--, por isto lhe dar em troca a garantia de uma imigração diminuta, feita a conta-gotas com chancela os poderosos locais dada pela Câmara,, garantindo um excedente de braços para trabalhar a terra; como já tínhamos visto.
    2. Por outro lado, contentar, e receber o apoio, --de forma difusa--, da ALA MODERNIZADORA, que via na emigração clandestina no seu retorno (por terem a família em Portugal e não pensarem em fazer vida fora) uma forma de modernizar as estrutura da economia nacional pela riqueza das experiências dos recursos humanos, especialmente os que tinham trabalhado na industria desses países, que vinham acrescentar qualidade à mão-de-obra nacional numa indústria que a partir de 1961, também por consequência da guerra, apresentou algum desenvolvimento;
    3. Servia também o PODER pelas DIVISAS que regularmente enviavam para os seus, pois para emigrar clandestinamente era necessário possuir a robustez, física e psicológica. Vencer muitas dificuldades, com um enorme esforço, numa aventura heroica que não se apresentava fácil para as mulheres e as crianças. E, se o ninho tinha ficado em Portugal e nele tinha ficado a descendência e o seu coração, o fruto do trabalho era canalizado para a terra natal. Ou seja, o poder dizia-se contra a emigração clandestina por um lado e por outro viveu durante décadas do seu esforço traduzido em divisas transferidas diretamente para Portugal e indiretamente nos investimentos realizados (construção de casas e aquisição de terenos e outros).;
    4. Servia ainda, pela NÃO POLITIZAÇÃO, pois os migrantes clandestinos sabedores que os do seus sangue estavam dentro de portas e poderiam sofrer represálias, afastavam-se de ideologias politicas, que os tentavam naquelas paragens onde se mantinham sobre vigilância, especialmente daquelas que fossem contrárias à ideologia vigente;
    5. Servia os PAÍSES DE DESTINO E SEUS EMPREGADORES, pois, se estavam clandestinos não eram um custo social por não terem todos os direitos, e também, não se metiam em greves e revindicações similares. Por outro lado, podiam lhes pagar um pouco menos,-- o que era bom para os patrões-- que, à época, não era sentido, dado que o câmbio o fazia bastante mais (é por isso que hoje a emigração já não é o que era);
    6. Era fonte de RENDIMENTO DE ENGAJADORES locais que recebiam uma pequena percentagem das mãos dos passadores, pois era necessário conquistar a confiança, de quem queria emigrar, dado que se constava que havia passadores falsos e, por outro, havia a polícia que de vez em quando agia, com pouco empenho, para atemorizar, só a emigração com fins políticos ou a de jovens rapazes, serviço militar, lhe puxavam pelas competências e empenho;
    7. Era uma choruda fonte de rendimento para uma rede DE PASSADORES que ficavam com a grande fatia. Os passadores zelosos iam ganhando fama e mais clientes num passa palavra à boca pequena: "fulano já lá está, ou fulano já lá chegou e, já trabalha". Os verdadeiros passadores atacavam os falsos passadores, até com violência, por estes lhe estragarem a reputação;
    8. Era fonte de rendimento de ALGUNS GUARDAS de fronteira que passavam informações, horas e locais, que facilitavam a passagem com mais segurança. Até houve passadores que passavam os emigrantes clandestinos pela própria fronteira, em Vila Verde, com a descontração de quem vai comprar caramelos a "Fezes de Baixo";
    9. Era fonte de rendimento para os SENHORES LOCAIS ENDINHEIRADOS QUE EMPRESTAVAM DINHEIRO a juros elevados a quem pretendia emigrar e não tinha capacidade financeira para pagar aos passadores. POR VEZES CHEGAVAM A EMPENHAR A PEQUENA COURELA que tinham recebido de herança, que depois resgatavam. Casos houve em os passadores recebiam uma parte no início e só recebiam o complemento quando o emigrante já tinha chegado ao destino em segurança. A segunda prestação era paga pelos familiares que tinham ficado em Portugal. Para garantir que tinha chegado, em segurança, o emigrante combinava, por vezes, com a família uma prova e uma contra prova: rasgavam uma fotografia, (por vezes até de um santo) ou cortavam um lenço, em duas metades e chegados ao destino davam a parte, que tinham em sua posse, ao passador que depois a apresentava aos familiares ou à pessoa que tinha ficado com a incumbência de pagar o restante;
    10. Como a família ficava em Portugal, era onde o seu estômago tinha que ser alimentado e o corpo vestido, assim o COMÉRCIO LOCAL viu crescer as suas vendas e os seus lucros, tendo até na década de 1960 aberto alguns comércios;
    11. Os VENDEDORES MATERIAIS CONSTRUÇÂO CIVIL, porque era necessário dar um jeito à velha casa ou construir uma, caso esta não existisse, porque toda a família requer um teto;
    12. Também os ARTISTAS ,pedreiros e carpinteiros, que não emigravam por entenderem que já dava para o caldo ou por não querer deixar os seus, o que sempre custa, passaram a ter mais trabalho;
    13. Por último, sem ser por fim, a emigração ilegal paradoxalmente aligeirava, SERVIA OS INTERESSES DE QUEM EMIGRAVA, desde que a miséria fosse muita e a valentia bastante podiam desta forma de um dia para o outro fugir à miséria e ir em busca de uma vida mais desafogada, sem estarem sujeitos à espera infinda e aos favores dos senhores locais! Só assim se compreende que a emigração legal tenha estado suspensa de 1947 a 1962, o que não significa que não houvesse quem saísse legalmente do país.
    continuaremos a falar-nos sobre esta temática
    Abraços e Beijos

    Dinis Costa
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